Genética melhoradora

Genética melhoradora

Quando se juntam dois animais para reprodução, sendo estes da mesma raça, procede-se ao que é chamado tecnicamente como simples acasalamento. Quando os animais são de raças diferentes, esse ato é denominado de cruzamento e os seus produtos denominados híbridos.

O desempenho produtivo das explorações pecuárias bovinas encontra-se diretamente ligado a dois fatores essenciais: a disponibilidade alimentar e a capacidade genética de crescimento da raça bovina selecionada.

O cruzamento entre reprodutores de diferentes raças puras, definido como F1, pretende tirar partido da conjugação de dois patrimónios genéticos distintos, potenciando a manifestação do vigor híbrido, ou seja, a exteriorização das melhores características de cada um dos seus progenitores, resultando em animais maiores e melhores.

Contudo o vigor híbrido dos descendentes bovinos apenas se manifesta plenamente em cruzamentos F1, ou seja, obtido a partir de pelo menos um reprodutor puro, reduzindo-se drasticamente em cruzamentos F2, F3 ou F4, ou seja, entre progenitores obtidos a partir de animais já cruzados, com depósitos genéticos cada vez mais diluídos, difusos e indefinidos.

À semelhança do que acontece com as sementes das culturas arvenses, se se utilizar na sementeira, ano após ano, as sementes da colheita anterior, observa-se um decréscimo gradual da produção, em virtude da diminuição da pureza das variedades utilizadas, consequência dos inter-cruzamentos sucessivos do mesmo depósito genético.

Também na produção de bovinos, quando se utilizam reprodutores puros, as performances obtidas são claramente superiores, tanto nos crescimentos obtidos até ao desmame e engorda, como nos pesos e rendimentos de carcaça obtidos. Um animal puro, de uma raça melhoradora, come aproximadamente a mesma quantidade de alimento que um animal cruzado, manifestando contudo índices de crescimento muito mais elevados e consequentemente um maior rendimento. Esta diferença encontra-se associada à riqueza e pureza genética dos progenitores.

No sentido de dar a dimensão ao potencial de cada touro melhorador puro certificado, salienta-se que um macho reprodutor transmite a sua genética a mais de 300 descendentes ao longo da sua vida reprodutiva, resultando numa forma segura de promover a melhoria do património bovino nacional.

A evolução do desempenho da bovinicultura nacional, através da promoção de genéticas melhoradas de origem nacional, seria visível na produção de melhores animais, os quais, no caso das fêmeas, representam geralmente os animais de renovação nas vacadas, razão pela qual se observaria uma melhoria a curto prazo que se projetaria para o futuro, em virtude do incremento de qualidade das fêmeas reprodutoras.

A utilização do património genético nacional das raças melhoradoras, que no caso da raça Limousine tem mais de duas décadas de certificação nacional, resulta também na promoção do consumo de produtos de origem portuguesa, em detrimento das importações maciças de reprodutores, como está a acontecer com algumas novas raças a entrar em Portugal.

A melhoria do património genético dos machos reprodutores, a nível nacional, resultaria inquestionavelmente na redução dos custos de alimentação em relação à produção obtida, ou seja, maior ganho médio diário a partir da mesma base de alimentação, resultando num incremento da rentabilidade das explorações, bem como na melhoria do desempenho nacional na produção de carne, com redução das importações e consequentes repercussões positivas na balança comercial do nosso País.

Considerando apenas um valor médio de 75 kg de melhoramento, nos novilhos destinados ao abate, em 300 mil vacas cruzadas existentes em Portugal, resulta num incremento total de carne produzida de 22.500 toneladas/ano, ou seja, um acréscimo de 10% da produção total nacional e um valor anual de 65 milhões de euros na balança comercial nacional.

Para além do anteriormente referido considera-se também relevante a melhoria de qualidade e de rendimento das carcaças produzidas, ou seja, com mais carne proporcionalmente ao osso, representando consequentemente uma redução do preço a cobrar ao consumidor.

Também a nível ambiental e de bem-estar animal se observam melhorias, uma vez que os animais atingem o desenvolvimento pretendido num menor espaço de tempo, reduzindo o seu impacte no ambiente e o tempo de confinamento a que estão sujeitos, melhorando genericamente a condição física de cada exemplar e reduzindo assim as doenças a que podem estar sujeitos ao longo do seu desenvolvimento. Por outro lado, a propensão natural para o crescimento reduz as necessidades alimentares, resultando assim em bovinos criados de uma forma mais saudável e natural.